Scrum – Alguns destaques

Não há a menor dúvida do quanto as metodologias ágeis tem sido discutidas de diferentes formas e contextos. Por isso, quero compartilhar alguns destaques de um dos livros que li, assim como as reflexões que essa leitura me trouxe. É muito bom quando se aprende algo e enxergamos a possibilidade de aplicação logo ali na frente e melhor ainda quando há o resultado vindo de uma ação pautada no conhecimento, método e análises que emergem de uma nova forma de ver as coisas.

As pequenas mudanças na nossa forma de atuar já fazem diferença, o que independe de grandes implantações de sistemas ágeis ou mesmo da abordagem dos aspectos da cultura da organização o que, certamente, demandam ações em outra escala.

Fiz essa leitura no ano passado. O livro que estou me referindo é Scrum – A arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo, os autores são Jeff Sutherland e J.J Sutherland. Não se trata de um spoiler, porque a ideia não é contar o que acontece no fim do livro, até porque o fim do livro trará “novos começos”, mas sim estimular o aprofundamento. Recomendo a leitura pois esta será ágil e irá permitir um fácil entendimento, tendo em vista os paralelos que conseguimos prontamente traçar com a nossa prática.

O que chama a atenção logo no início é a referência que se faz ao atentado de 11 de Setembro nos EUA e o quanto a otimização de processos/sistemas e uma comunicação efetiva poderia ter evitado esse evento tão catastrófico para aquele País e para o mundo.

A nova forma de pensar (Scrum) traz o contraste com métodos tradicionais de conduzir os processos, assim como provoca uma reflexão de como as pessoas trabalham, pois não é a falta de pessoas inteligentes e competentes, mas sim como funcionam juntas.

O controle e a previsibilidade dão lugar à incerteza e criatividade. Aqui fazendo um parênteses para evidenciar o prenúncio da necessidade das quebras de paradigmas, especialmente quando falamos em organizações com estruturas verticalizadas, pois a criatividade, por exemplo, deve vir acompanhada de certo grau de autonomia. Não adianta criar se as barreiras para execução são intermináveis e sufocam as tentativas de inovação.

A essência do Scrum é simples, na minha leitura, se trata de não esperar dar errado para perder tempo e dinheiro para corrigir e ainda ter no radar o acompanhamento das pessoas, no sentido de saber se estão produtivas em suas posições e se estão onde querem. A checagem regular favorece as correções de rota e ajustes que levarão ao aprimoramento contínuo do processo e algo relevante em tudo isso tem a ver com a participação daqueles que executam. O nome desse novo modelo de gestão é “inspeção e adaptação”, o que no livro é explorado com toda a propriedade necessária.

No mundo corporativo, por vezes, a energia que nos move é aquela máxima de que “tudo é importante”. Quem nunca se sentiu perdido sem ao menos saber o que fazer primeiro? Qual projeto devo me dedicar agora? O que de fato agregará real valor neste momento? Não é à toa que gestão do tempo é sempre um tema recorrente em conversas, artigos, cursos, enfim…não sai da pauta.

O Scrum instrumentaliza para as decisões de priorização, ou seja, o que de fato agrega valor para o projeto. Sabemos que a origem de tudo isso vem do desenvolvimento de software e sabemos também que a aplicação não se restringe a esse campo, por isso, há uma regra criada nessa área de conhecimento que diz que 80% do valor de qualquer programa está em 20% de suas funcionalidades, o que facilita a priorização em qualquer projeto e segmento de atuação.

O que pensei quando li isso foi que as entregas não estão relacionadas à quantidade e sim à qualidade do que se entrega, algo bem simples, mas há complexidade na simplicidade. Então, de forma simples: Priorize o que fato vai fazer a diferença, priorize o que irá agregar valor, parece óbvio, mas nem sempre temos essa clareza. Não esquecendo que o tempo é uma variável relevante e determinante em tudo isso.

O “Manifesto Ágil” é onde se declara os valores que norteiam o trabalho, surgiu em uma reunião em 2001, na qual o autor deste livro e mais 16 outros líderes de desenvolvimento de software declararam e descreveram cada um deles. É muito esclarecedor quando há a explicação de que o Scrum é uma estrutura elaborada para colocar os valores em prática. Além disso, o livro traz outras ideias que deixam cada vez mais simples a sua definição e assim torna cada vez mais palpável a sua implantação. 

A parte central do Scrum é o ritmo e isso muda todo o jogo, pois a percepção da produtividade é outra e aspectos como o desperdício de tempo e de recurso são, pelo menos, percebidos e encarados como ofensores dessa referida produtividade. O que me traz a mente a procrastinação, assunto que também é uma pauta atual, habilidades como planejamento, organização e senso de urgência são fundamentais em um contexto ágil e são essas mesmas habilidades que podem eliminar ou evitar o ato de procrastinar.

Há muitas discussões interessantes nesse livro como, por exemplo, “fazer uma coisa de cada vez”, o que vai contra à dinâmica em que vivemos e que nos faz ser “multitarefa”, mas a ideia é demonstrar que a mudança constante de contexto (de projeto) nos leva ao desperdício de tempo, um insight muito especial que nos provoca a rever a condução das nossas diversas demandas.

Novamente vem a ideia do “simples” o que é sempre presente do Scrum. Há apenas três funções: Scrum Master (ajuda a equipe a determinar como realizar o trabalho de uma maneira melhor), Product Owner – PO (decide qual deve ser o trabalho. Essa pessoa controla o backlog, ou seja, define as prioridades) ou a posição de membro do time que executa o trabalho. Não há relação com cargo formal ocupado na empresa.

Os sprints são a execução do método. O que será realizado (com base na priorização, que por sua vez, é vista com o olhar de agregação de valor ao cliente) no tempo determinado (definido pelo time). A retroalimentação vem, especialmente, dos rápidos feedbacks dados pelos clientes que culminam com ajustes de rotas e revisão de prioridades, como citado em trecho anterior desse texto.

É possível encontrar “a receita” de como implantar o Scrum e não é à toa que fica bem no final do livro (último capítulo). Toda a discussão que percorre as 215 páginas é o preparativo para compreender do que, de fato, estamos falando e para ponderar a necessidade da transformação de mentalidade que é determinante para o sucesso dessa jornada.

O conhecimento fundamenta a mudança. A implantação de um método deve ser feita considerando, entre outras coisas, a instrumentalização com novos conceitos e a visão de realidade que mostra como estes novos conceitos/métodos… “conversam” com o contexto de cada um. O diagnóstico do momento atual da empresa é o primeiro passo para a introdução de novas ferramentas, métodos ou o que quer que seja. Esse diagnóstico vai desde de como as coisas são feitas, do ponto de vista operacional, até aspectos de cultura, liderança…governança.

Anteriormente escrevi que podemos fazer pequenas mudanças em nossa forma de trabalhar e que isso independe de um grande movimento de mudança, mas as ações voltadas para melhoria contínua, eliminação do desperdício, agregação de valor na experiência do cliente, incorporação de inovação que faça sentido para o negócio, deve estar, em algum momento, na agenda de todos em todos os níveis da organização.

O você já pode fazer diferente?

Boa leitura!

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